sexta-feira, 24 de junho de 2011

Violência com as próprias mãos contra o crime: se justifica?

Notícia completa: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a3341653.xml

No final da noite de domingo no dia 5 de junho, o lenhador Gilson da Silva chegou a sua casa no bairro de Vera Cruz, em Gravataí, e encontrou a porta arrombada. Deu falta de uma marreta, de um machado, de uma motosserra, e logo ouviu barulho: era a vizinhança, em torno de 20 pessoas, que traziam o ladrão que contiveram e agrediram. Com a ajuda desses vizinhos, Gilson amarrou o assaltante pela cintura e pelos pés em sua carroça e o arrastou pelas ruas por cerca de 300 metros. Quando ele fugia, a multidão o agredia e amarrava novamente. A BM, acionada por um vizinho, chegou meia hora depois e conteve a ação, quando amarravam o criminoso pela terceira vez. Todos foram levados para a delegacia, os itens roubados foram recuperados, o criminoso ficou em atendimento no hospital durante 3 horas e depois seguiu para o Presídio Central. Gilson da Silva foi autuado por não ter permissão para usar a motosserra, que foi apreendida até que ele obtenha a documentação necessária, e o delegado ainda estuda a possibilidade de indiciá-lo por “exercício arbitrário das próprias razões” quanto às agressões ao assaltante. Gilson alega ter ficado nervoso, com raiva, porque trabalhou para ter aqueles utensílios que são seu ganha-pão, e “aí, aparece um sujeito, pega tudo e vende por R$ 10 para comprar droga”, nas suas palavras.

Esse caso, muito polêmico, gerou todo tipo de alteridade. Há aqueles que concordam com a ação do lenhador, identificando-se com a raiva de ver alguém roubar algo que ele trabalhou duro para ter e dizem ainda que, agora, roubam nossas casas e nós que somos indiciados. Há também os que acham absurdo chegar a esse ponto, e há ainda os que, horrorizados com a sociedade de violência e crime em que vivemos, simplesmente não sabem mais o que pensar.

Por um lado, a sociedade está com medo, está insegura. Não há como negar que a raiva de Gilson ao ver o assaltante que tentou roubar utensílios caros que ele trabalhou muito para ter e que fazem seu sustento é compreensível. Para ele, uma pessoa simples, trabalhadora, o ditado “vão-se os anéis, ficam os dedos” não é bem assim. O trabalho é, provavelmente, sua vida. Além disso, todos sabemos que nem sempre os assaltantes que são presos permanecem na prisão por muito tempo. Repito, a sociedade está insegura, e muitas vezes se sente desprotegida. Por outro lado, será que se justifica tamanha violência por parte de Gilson e seus vizinhos? Pessoalmente, compreendo a raiva dele, mas não concordo com as ações que tomou. Acho que nada justifica arrastar um ser humano pelas ruas, e que a violência do povo contra a criminalidade está passando dos limites, entrando para o limiar da criminalidade também. Se todos agora resolverem fazer justiça com as próprias mãos, a sociedade vai virar um caos, um “olho por olho, dente por dente”, e quando nos dermos conta, todos se acharão no direito de fazer o que acharem que devem sempre que se sentirem atacados de alguma forma. Mas repito, esse é um caso muito polêmico e controverso.

E você, o que acha disso? Opiniões serão muito bem vindas.

4 comentários:

  1. Muito bem colocadas tuas argumentações! No esquema olho por olho, a sociedade acaba, no fim, totalmente cega. É complicado lidar com a insegurança e as injustiças. Em frente a tanta criminalidade, a sociedade acaba, por vezes, perdendo a cabeça e não sabendo mais para quem recorrer e como agir.

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  2. Me parece intuitivo que a alteridade, quando em excesso, pode ser problemática. Mais do que natural, é saudável que nos enxerguemos no lugar dos outros. No entanto, é fácil de notar que muitas vezes (a notícia desse post é um exemplo), enfrentamos uma imensa dificuldade em formar opiniões por excesso de alteridade. Podemos nos colocar no lugar do lenhador ou do ladrão com a mesma facilidade. De fato, esse caso é análogo à grande maioria das polêmicas que permeiam a nossa sociedade, nas quais o "se coloque no lugar de tal pessoa" é um argumento válido para defender ambos os lados envolvidos na polêmica. Os problemas que eu observo são apreço da nossa sociedade pela dicotomia e a nossa hipócrita sede de justiça. Ao nos consumirmos tentando culpar o lenhador OU o ladrão, nem ao menos paramos para considerar uma terceira via. Não acho que faça sentido condenar um ou outro, e sim a estrutura falha da nossa sociedade. De fato, parece fazer sentido que se temos tanta facilidade em nos colocar no lugar dos outros, é porque nosso problema não é com as pessoas. Nosso problema é com a sociedade, e na verdade, é irônico que quanto mais empatia sentimos, menos achamos que temos.

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  3. De fato, um assunto sempre muito polêmico. Pessoalmente, concordo com a opinião de vocês, de nada adianta revidar da mesma maneira. A famosa "vingança" só leva à violência sem fim.
    Mas é interessante perceber que ainda que nossa posição seja contra essa "justiça", geralmente sentimos um certo prazer ao ver, na ficção, esse tipo de situação acontecendo. Claro que há a diferença para o mundo real, mas até onde será que a nossa moral acompanha?

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  4. Na maioria das vezes as pessoas não querem justiça, elas querem vingança. Esse caso só reforça isso.

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